Uma viagem no tempo a maio de 2022
“Quando a nossa dependência pelos meios digitais vinha a aumentar naturalmente, fomos obrigados a imergir numa overdose de estímulos digitais” – a opinião de Filipe Mestre, manager da askblue

No caminho para o escritório, recordei-me que faz hoje dois anos que me projetei no futuro, tentando imaginar como seria o mundo hoje. AC e DC ganharam mais um significado de mudança no Mundo. Destaco duas grandes mudanças a nível pessoal e duas mudanças profissionais, entre muitas outras. Quando a nossa dependência pelos meios digitais vinha a aumentar naturalmente, fomos obrigados a imergir numa overdose de estímulos digitais. Tornou-se redundante esperarmos ser moda juntarmo-nos numa esplanada. A forçada abstinência relacional fez-nos recordar o valor de um simples abraço. Caminhávamos em passo acelerado para o Homo Connectus, quando no dia seguinte fomos forçados a sê-lo, apercebendo-nos de que o objetivo da digitalização é apenas de aumentar o nosso recurso mais escasso, o Tempo.

Na idade adulta ativa, vivemos com o paradoxo em que, na visão de curto prazo, as nossas ações permitem responder a necessidades imediatas e, na visão de longo prazo, adaptamo-nos hoje para necessidades que prevemos num maior ou menor horizonte temporal. A visão de longo prazo foi claramente influenciada na medida em que pertencemos a gerações que desconheciam a experiência de uma mudança drástica global, o que nos trouxe outro paradoxo: a insegurança futura aliada ao aumento de confiança nas nossas capacidades de adaptação. Estas mudanças permitiram-nos evoluir a nível profissional em dois aspetos – Meritocracia e a Globalização.

A redução da abrangência na comunicação implicou igualmente a redução da componente relacional o que teve como consequência direta o aumento de foco nos resultados do serviço prestado. Uma das principais mudanças na área de Consultoria de IT traduz-se na avaliação dos resultados dos serviços prestados, hoje mais orientados aos resultados. No que diz respeito à Globalização, e ao contrário de outros sectores da economia, os serviços de TI podem, quase na sua totalidade, ser prestados a partir de um computador com acesso à internet, independentemente da geografia, fuso horário, cultura ou idioma. A consequente globalização, iniciada há já algumas décadas, viu agora serem quebradas as últimas resistências dos modelos anacrónicos de Gestão, onde a presença efetiva era considerada uma forma de controlo. Acelerámos a mudança na contratação de serviços, tanto na perspetiva dos clientes como dos fornecedores. Os Clientes estruturaram/amadureceram as suas infraestruturas e os seus modelos de serviço o que lhes trouxe o acesso a novos fornecedores, até então inatingíveis, por desconfiança, incapacidade (falta de estrutura) e valor de investimento (localização de equipas). Os Fornecedores confirmaram que a distância física dos seus colaboradores não os impede de formar equipas eficientes, pelo que têm agora oportunidades de contratação mais amplas e menos focadas em critérios geográficos.

No fundo, 2020 ensinou-nos que nestas alturas nos reinventamos para melhor, mais adaptados, mais atentos e mais conscientes dos nossos valores. Somos mais fortes e sustentados, mantendo próximo o que aprendemos. Nada é garantido, tudo deve ser merecido. Evoluímos profissionalmente, estamos mais globais onde queremos estar e mais locais no que queremos ser, a nossa cultura não mudou, adaptou-se. Esta partilha de ideias decorreu no caminho entre a cozinha e o escritório de minha casa, em Nossa Senhora de Machede, em Évora. Onde o tempo e espaço dilataram, onde a família está mais presente e onde melhor consigo contribuir para a sociedade.

Por Filipe Mestre
Manager da askblue

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